segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Prevenir é melhor do que remediar

SEGURANÇA: Assaltos na porta de bancos preocupam voltarredondenses



VOLTA REDONDA
É um fato incontestável: sair das agências bancárias da cidade do aço em segurança é golpe de sorte. Aos azarados, resta lamentar quando são vítimas das famosas ‘saidinhas de banco’, modalidade de assalto que anda irritando dez entre dez voltarredondenses. Uma das vítimas mais recentes foi a médica Maria Inês de Castro Abreu, 57. No dia 5 de agosto, ela saía de uma agência da Avenida Amaral Peixoto, no Centro, quando foi rendida por um homem armado enquanto caminhava para o estacionamento do banco. Sem opção, restou à Maria Inês entregar ao assaltante os R$ 8 mil que acabara de sacar, mais um aparelho celular e a chave do carro.
O curioso da história toda é que ao relatar o caso aos policiais da 93ª Delegacia de Polícia de Volta Redonda, a médica citou um detalhe importante. Segundo ela, o bandido – que fugiu na garupa de uma moto, pilotada por seu comparsa – teria dito a seguinte frase ao assaltá-la: “Eu quero os R$ 8 mil que você acabou de sacar”. A afirmação do criminoso leva a crer que a atuação dos bandidos anda ficando cada vez mais ousada. E detalhe importante: na grande maioria desses assaltos houve a atuação dos ‘bandidos-motoqueiros’, que, protegidos por seus capacetes, não podem ser reconhecidos pelas vítimas – situação, aliás, que dificulta o trabalho da Polícia em investigar os casos e, consequentemente, em prender os assaltantes.
O elevado número de assaltos nessas circunstâncias tem gerado preocupação. O que fazer, afinal, para que os cidadãos possam utilizar os serviços bancários com tranquilidade, sem medo de serem assaltados? Para Paulo Baltazar, candidato a deputado federal pelo PRTB, uma saída seria obrigar as instituições bancárias a oferecer a seus clientes uma espécie de ‘escolta’ quando altas quantias forem retiradas das agências. “Volta Redonda está em posição estratégica, pois fica entre os dois maiores centros econômicos do país – Rio e São Paulo. E é, também, a região mais industrializada, com a maior renda per capta do estado. Então, é mais ou menos óbvio que a violência busca essa região e tornam-se comuns assaltos como o da ‘saidinha de banco’”, analisa.
Segundo Baltazar, é inocência achar que crimes como este diminuirão. “Pelo contrário, vão aumentar. Por isso, acredito que os setores de segurança pública têm que usar de inteligência neste combate, inclusive com o uso de tecnologia”, afirma, acrescentando que as Polícias Civil e Militar precisam atentar para o fato de que os bancos são o ‘ponto quente’ para este tipo de assalto. “É mais fácil detectar, já que é um crime que tem local específico para ocorrer. Portanto, não é impossível prevenir. Penso que a Polícia Militar, em parceria com a Guarda Municipal, poderia estudar a questão e criar uma estrutura visando o combate a esses assaltos”, acredita Baltazar, lembrando, contudo, que não se pode eximir os bancos da responsabilidade.
“Os bancos são corresponsáveis no que diz respeito à segurança de seus clientes. Por isso, acredito que deveriam ser obrigados a instalar, além das câmeras internas, câmeras estrategicamente posicionadas no entorno das agências, monitorando a área 24 horas por dia”, diz ele, lembrando que as motocicletas – veículo preferido dos assaltantes – poderão ser vistas num perímetro razoável. “Agora, penso também que a Guarda Municipal ou a Polícia Militar, cientes deste problema, deveriam posicionar-se nas imediações das agências bancárias. Mas isso tem que ser um programa permanente e, de tempos em tempos, as técnicas de abordagem devem ser mudadas”, opina Baltazar, certo de que é indispensável que, uma vez que a Polícia identifique os criminosos, compartilhe as informações com as delegacias das cidades vizinhas. “Essas providências podem inibir esses assaltos. Mas afirmo que é fundamental que os bancos sejam responsabilizados também, assim como o Poder Público, que tem por obrigação dar segurança às pessoas”, frisa.
Baltazar vai além. Diz que uma alternativa para ao menos minimizar o problema seria proporcionar ao cliente a possibilidade de fazer saques de altas quantias em outro local que não seja a área dos caixas eletrônicos. Para justificar, ele cita um exemplo. “Aquela área dos caixas é muito visada. Portanto, o cidadão fica vulnerável à ação de ‘olheiros’ que, munidos de telefone celular, alertam para seus comparsas quem está saindo do banco com altas quantias de dinheiro. Também sou a favor de que, por isso, o uso de telefones celulares seja proibido na área reservada aos caixas”, argumenta, certo de que a medida pode dificultar a ação dos criminosos.
A sugestão, pelo menos a princípio, pode desagradar a algumas pessoas. Afinal, ninguém quer abrir mão do direito, por exemplo, de bater um papo pelo telefone enquanto aguarda atendimento no banco. Mas Baltazar lembra que, muitas vezes, vale a pena abrir mão de alguns confortos em prol de um bem maior. “O caso dos assaltantes que andam de moto, por exemplo. Em Alagoas, onde os criminosos utilizavam motos para cometer assassinatos, um juiz chegou a proibir o uso de capacetes dentro dos limites da cidade, contrariando as leis de trânsito. A situação lá chegou a tal ponto que esta medida foi necessária em função da segurança pública”, lembra Baltazar, que emenda: “Lá a situação chegou a tal nível que foi preciso uma decisão drástica”.
Defensor da tese de que todos devem colaborar no combate à criminalidade – mesmo que isso signifique uma pequena ‘encheção de saco’ para os cidadãos de bem –, Baltazar acredita que, em Volta Redonda, não é preciso que se proíba o uso de capacetes. Basta, segundo ele, que a Polícia intensifique as blitzes. “É um transtorno, sim, mas acho que tem que aumentar as blitzes. Acho correto. É o preço que se paga: mais segurança, menos liberdade. Infelizmente, não há outro jeito”, sentencia Baltazar. “Isso certamente diminui um pouco o conforto das pessoas, mas, ou se faz isso, ou todos ficaremos à mercê da violência”, completa.
Policiamento preventivo
Conhecedor dos estragos feitos pelo tráfico de drogas na sociedade, já que atuou como relator da CPI do Narcotráfico, em 1999, Baltazar acredita que, em Volta Redonda, o crescimento da violência está atrelado ao consumo e venda de entorpecentes. Ele diz não ignorar que, na cidade do aço, assim como nas cidades vizinhas, há uma movimentação considerável de traficantes, principalmente nas áreas mais pobres do município. Por isso, ele defende que o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) – pedido feito pelo deputado estadual Edson Albertassi (PMDB) ao governador Sérgio Cabral - seja implementado na região Sul Fluminense, a exemplo do que acontece nas favelas do Rio de Janeiro – áreas onde o crime organizado atua como um poder paralelo ao do Estado.
Ele acredita, porém, que, para o interior, o projeto deveria sofrer algumas pequenas modificações. “Vejo as UPPs como um grande avanço em relação às áreas dominadas pelo crime, principalmente pelas milícias e pelo narcotráfico, aliando segurança e ação social. É uma outra modalidade de enfrentamento ao crime”, observa Baltazar, acrescentando, contudo, que no Rio de Janeiro e em outras capitais, ao contrário do que acontece no interior, a identificação de áreas dominadas pelo crime é mais clara. “Em Volta Redonda temos, primeiramente, que especificar quais são as áreas mais problemáticas. A ideia das UPPs vem do policiamento comunitário, mas com uma estrutura voltada para situações mais críticas. A meu ver, o policiamento em Volta Redonda deveria ser mais voltado para a prevenção”, opina.
“Aqui não temos áreas com um domínio muito claro de facções criminosas. Não vejo em Volta Redonda áreas em que o tráfico cobre pedágio ou imponha toques de recolher, obrigando o comércio e as escolas a fecharem suas portas, como acontece no Rio”, analisa Baltazar, preferindo não reconhecer a atuação de grupos de traficantes no Complexo da Vila Brasília, entre outros, como exemplo da necessidade da implantação de uma UPP na cidade do aço.
“Só se pacifica o que está em guerra. Aqui temos que prevenir para que não cheguemos ao ponto de ter que pacificar”, sublinha, reforçando a tese de que é preciso mapear as áreas mais problemáticas e, a partir daí, definir quais exigem uma intervenção policial mais direta – seja ela preventiva ou pacificadora. “Sou a favor de um policiamento que se integre à comunidade – não é para passar por lá só de vez em quando. Tem que ser um policiamento que ganhe o respeito e a confiança da comunidade, que não pode ter medo da Polícia. Por isso, é indispensável que tenhamos policiais preparados, com este espírito de integração”, justificou.
De acordo com Paulo Baltazar, o trabalho da Polícia junto às comunidades onde há movimentação do tráfico deve ser análogo ao dos médicos. “Um médico, quando trabalha numa comunidade, deixa claro que está ali para ajudar. Portanto, ganha o carinho e o respeito das pessoas. Com os policiais deve acontecer o mesmo”, acredita. “A criminalidade é como uma doença: posso tratá-la ou preveni-la. E para prevenir essa doença, é preciso que a Polícia esteja perto da população, mostrando que está ali para ajudar, respeitando e sendo respeitada”, emenda Baltazar, que defende, dentre outras, que o Estado invista no treinamento dos policiais, inclusive dando apoio psicológico, para que eles possam desempenhar suas funções junto às comunidades.
Certo de que o policiamento preventivo é uma alternativa viável para combater o crescimento da criminalidade no Sul Fluminense, Baltazar lembra que o grande fator de êxito nas UPPs do Rio é justamente o bom relacionamento entre a Polícia e a população. “Ao quebrar o monopólio do tráfico e das milícias, as UPPs integram-se às comunidades. É algo inovador porque, além de reprimir a violência nesses locais, é também preventivo. Olhando para as metrópoles, temos que pensar em maneiras de não deixar que a violência se alastre aqui no interior como se alastrou lá”, conclui.


ENTREVISTA REALIZADA PELO JORNAL AQUI
http://www.jornalaqui.com.br/arquivo/2010/699/paginas/vr1.htm

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